domingo, 23 de novembro de 2014

DEVANEIOS DE UM ANDARILHO SOLITÁRIO


Lembro-me deste dia perfeitamente.
Era uma tarde chuvosa de 1985 em São Paulo. Aquelas tardes quando falta bom e delicioso macarrão da mama, pois nem a grana para a condução eu tinha e mais uma vez teria passar fome no CRUSPÂO de então, pois nem o bendito e salvador bandejão eu tinha. Morava-nos 107 do Bloco C, eu, André Ceccato da Ead e o Vicentão negão da História e tínhamos o orgulho de termos como vizinho do 108 o grande livreiro e garimpeiro de todos os sebos de Sampa, magrinho , mano nosso, o Fabinho. Comida não tinha, mas cachaça e poesia sempre e às vezes ambas em um só livro e por acaso este tal caiu em minha mão, um livro velho e da antiga editora portuguesa, a tal da Estampa e se não me engano o nome e o autor, este livrinho mudou a minha vida. “Devaneios de um andarilho solitário” de Jean Jacques Rousseau. A fome era tanta que só um bom e salvador livro espanta a danada, isto se tomar muita água, rs e o devorei este como se fosse o melhor de todos os manjares ou um macio e apetitoso pão, que por acaso era francês. E a minha digestão de idéias e devaneios, foi tamanha que comecei a sonhar acordado e passei a caminhar por entre ruas arborizadas e floridas, mas quase sempre desertas. O medo e a ditadura militar ainda dominavam e impunham pela força e pela Rota o silêncio compulsório no campus da USP. Rousseau escreveu esse livro quase no final de sua vida e vivia em um tempo de total decadência, ostracismo e esquecimento e andava como uma nau sem rumo pelas ruas lotadas e congestionadas de Paris pós 1789. O período do Terror se aproximava e havia cheiro de sangue e medo no ar. A imagem que ele mesmo relatou neste livro autobiográfico e por demais poético deste momento derradeiro de sua vida, é a seguinte: “Chronos o antigo deus grego que representava o tempo, era para Rousseau a própria Revolução Francesa, do qual ele uma dia fora uma das principais figuras revolucionárias, mas que no mento em que escrevia este seu último livro, escrito este a partir de devaneios em passeios pelas ruas agitadas de Paris. Rousseau estava em profundo estado de depressão e fingia fugir de si mesmo, mas e o Tempo, deus cruel e implacável para seus filhos, devorava-os um a um e ele estava a intuir que sua hora estava por chegar. Leiam este grande e poético livro de filosofia daquele que para mim foi o maior de sua época. JEAN JACQUES ROUSSEAU DEVANEIOS DE UM ANDARILHO SOLITÁRIO Profº Marcos Aurélio

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